PERGUNTA DISTANTE

Há pouco uma amiga questionou a paz em Diana, talvez haja sim, mas sob outro referencial, bem mais sutil, algo que somente uns poucos podem ver.

PARA DIANA

Hoje me lembrei de quando te encontrei depois de tanto tempo. Foi muito bom contar o passado, discutir o presente, moldar a realidade. Deixando ali um momento ímpar, que ficará marcado para mim como um momento em que percebi que certas mudanças se faziam necessárias e cedo ou tarde teriam de acontecer. Embora não saiba ao certo se devo ficar feliz pela lembrança, arrependido pelo final ou alegre pelo desfecho, obrigado Diana. E que você reine ainda por muitos anos. Fica em paz.

DELETERIEDADE (para Hermann)

Até que ponto o amor cego é da mesma forma prejudicial que o descaso extremo? Hoje me perguntei isso, e saí de casa, me questionando se devia fechar portas atrás de mim, mas não por completo, somente como forma de me proteger. Certa feita li sobre alguém que após sofrer uma perda, ergueu em volta de si um muro pra se proteger do resto do mundo. Foi deleteriedade voluntária? Talvez. Talvez uma forma inconsciente de se preservar? Mas até que ponto foi inconsciente? Aliás, a consciência, o que é exatamente? Será proteção? Medo? Covardia? Ou mesmo deleteriedade?

A IMPERATRIZ

Vasculhando uma caixa de pedaços do passado, ele achou uma carta do tarô. A imperatriz, arcano maior talvez. Não se importava e sem se perguntar como aquela carta fora parar ali, a espetou no pequeno painel de cortiça em cima do sofá da sala, ao lado de uma foto que tinha achado em sua mochila, e ficou impressionado com a semelhança entre a Imperatriz, e aquela senhora na porta da ermida. Pareciam até mãe e filha.

O ARAUTO

Na Maré alta de domingo
o arauto anuncia a revoada
no horizonte, um barco
no coração, lembranças

Na maré alta de domingo
o arauto vasculha o tempo
no horizonte, os pássaros
no coração, o medo

Na maré alta de domingo
o arauto enxerga adiante
no horizonte o tempo
no coração, incertezas

Na maré alta de domingo
o arauto vê a esperança
no horizonte, um destino
no coração, saudade

Na maré alta de domingo
Um barco
Um horizonte
Um arauto
E uma esperança.

GLOCKA MORRA

Conta uma velha lenda, que no alto de uma serra desconhecida, existe um exuberante vale cercado por uma floresta de verde nativo, o mais belo dos lagos e a mais bonita cadeia montanhosa jamais vista.

ANO NOVO

Faltava menos de uma semana para o ano novo, e à medida que a música ia tomando conta do ambiente era como se tudo ficasse mais leve. Era uma cantora desconhecida qualquer, ao menos para ele até ali. Estava um dia de sol, céu azul, sem nuvem ou mega nuvem, da sua janela via um distante parapente de velame sobrevoando o lago de Glocka Morra. Estava em paz. Ouvia tudo de forma mais clara, e a luz havia voltado aos seus olhos. Certa vez disseram a ele: 'dois mais sete, igual a nove'. Um novo ciclo? Talvez... Estava menos cético ultimamente, mais sentimento... Tinha achado alguns limites, não todos, é verdade, mas por ora aqueles lhe bastavam.

SOBRE O SECULO XX

O que podemos esperar do homem além da destruição do mundo, de seus valores e do auto-extermínio?Vivemos hoje uma espécie de catarse coletiva e inconsciente, onde o homem moribundo sobre um leito hospitalar sobrevive devido a aparelhos. Aparelhos que nos remetem a uma lembrança longínqua de um século que, sem dúvida, ficará na história como uma espécie de divisor de águas. Durante os últimos cem anos assistimos o homem ir à lua, vimos um carro ser montado em poucos minutos, nações serem varridas do mapa com o simples apertar de um botão. Presenciamos destruição, fome, miséria, doenças, pestes e pragas, e tudo com o beneplácito de uma sociedade hipócrita e mesquinha que, por muitas vezes subjugando o valor humano, nos fez acreditar que de tempos em tempos as guerras geram empregos e aumentam a produção. Vimos um conjunto de valores serem separados por muros, cercas, campos de concentração, e a concentração em grandes metrópoles. O que vemos hoje é uma civilização vegetativa, uma civilização que acredita muito mais no poder das grandes empresas, num mundo corporativo, globalizado e abstrato. Num mundo que não existe além dos interesses econômicos, um mundo em que seres humanos são reduzidos a números e máquinas, num esquema onde foram deixados de lado valores elementares como a compaixão pelo próximo, o amor próprio e o respeito pela natureza. O que vivemos hoje é, sem duvida, o início de um ciclo que por mais que queiramos esconder, culminará no extermínio da sociedade como conhecemos. Com o implemento da produção em série, vimos surgir uma nova ditadura, uma ditadura de máquinas cada vez mais vorazes, sinal dos tempos, tempos modernos. Tempos esses que acirraram ainda mais uma luta de classes na qual não há vencidos nem vencedores; um admirável mundo novo no qual somos submetidos cada vez mais ao grande irmão que do alto de sua onipotência a tudo controla e, impiedosamente, ceifa àqueles que não se enquadram em seu esquema sujo, não poupando nem os que se rebelam em praças públicas, queimando os símbolos e as bandeiras da opressão, enfrentando os tanques de guerra, os fuzis e outras ameaças invisíveis que, mascaradas, nos chegam como a grande salvação para a raça humana. A mesma raça humana que inventa realidades paralelas. O século XX entrará para a história como o século da contra cultura, o século da contestação, o século da intolerância, o século da banalização. O século da informação rápida, do conhecimento fugaz, da profusão rápida de idéias e ideais efêmeros, um tempo no qual a vida humana não tem mais valor algum, um tempo no qual basta ligar nossos computadores para receber toda informação necessária para nos mantermos vivos, nos dando a ilusão de estarmos interagindo com o mundo que nos cerca, sem perceber que, na verdade, estamos cada vez mais deixando de pensar, para nos render a um padrão eletrônico de processamento de idéias pré-concebidas. A globalização, o avanço tecnológico e o crescimento da informática vêm cada dia mais prejudicando o homem de forma irreversível. Com o advento do E-mail e da comunicação instantânea, banalizamos a emoção e nos tornamos somente meros impulsos eletrônicos sedentos por emoções cada dia mais vulgares, buscando satisfazer nosso desejo de forma superficial através de salas de bate papo, sexo virtual, web cams e outros artifícios cada vez mais comuns, nos esquecendo de viver a realidade. E tudo isso nos parece tão normal que ao abrir a janela não conseguimos ver o colorido da vida fora do Windows.

E-MAIL À UMA VELHA AMIGA

O tempo passou, os ventos mudaram, o mundo ficou mais curto, mas a impressão que tenho é que nada está diferente. A coisa toda parou. Sei lá, tudo está esquisito, aliás, não sei se está esquisito de fato, é meio aquela coisa de ver o mundo com os próprios olhos... Tenho me sentido estranho ultimamente, algo como conseguir se sentir sozinho no meio de uma multidão..... De não se importar com macarrão a bolonhesa ou quatro queijos, de não estar nem aí... De não se importar em fazer a barba... sei lá.Por outro lado penso na importância da consciência em todos os sentidos e chego a me questionar se isso já não é um bom sinal?Estou completamente cego. Não consigo mais ver cor em absolutamente nada. Tenho certeza que mudanças importantes estão a caminho, mas e dai? Vou sentar e esperar então? Com a boca escancarada cheia de dentes? Acho que estou pirando completamente, entrando um curto... Acho que a coisa do eterno retorno.Vou pensar mais a respeito.

O HOMEM E A INTERNET

Chego a comparar o homem de hoje a um doente terminal, que, moribundo sobre um leito hospitalar, sobrevive devido somente aos aparelhos. O que vemos hoje é uma civilização vegetativa, uma civilização que insiste em afirmar que o mundo on line é o melhor lugar para se viver e se trabalhar, uma civilização que já não dá mais valor para o sentimento real. Cada vez que ligamos nossos computadores, esperamos receber toda informação necessária para nos mantermos vivos, nos dando a ilusão de que estamos interagindo com o mundo que nos cerca, sem perceber que, na realidade, estamos cada vez mais deixando de pensar para nos render a um padrão eletrônico de processamento de idéias pré-concebidas. A globalização, o avanço tecnológico e o crescimento da informática vêm cada dia mais prejudicando o homem de forma irreversível no que toca suas relações interpessoais. Com o advento do E-mail e da comunicação instantânea, banalizamos a emoção que há em nossos corações, nos tornando não somente meros impulsos eletrônicos num complexo corredor de chips e fios, mas num simples pedaço de carne sedento por emoções cada dia mais vulgares. Buscamos satisfazer nosso desejo de forma superficial através de salas de bate papo, sexo virtual, web cams e outros artifícios cada vez mais comuns hoje em dia, nos esquecendo de viver a realidade. Libertemo-nos da ditadura virtual que a Internet tem nos forçado a viver. Não sejamos mais apenas impulsos eletrônicos numa tela fria de computador. NÃO AO ADMIRÁVEL MUNDO NOVO. Vamos fechar um pouco a WINDOWS e abrir a janela. A vida lá fora é muito mais colorida que se pode imaginar. Resgatemos a VERDADEIRA ESSÊNCIA HUMANA que arde em cada um de nós. Já está na hora de encararmos a realidade que tudo isso não nos levará a lugar algum, que a saída para o mundo é a volta do contato interpessoal físico.

PASSE

Troféus, Títeres, Ilusões, Conversas, Delírios e Planos. O que nisso tudo faz sentido? Qual o real sentido de tudo? Do que vale a vida sem sonhos? A única coisa verdadeiramente real é o sonho? Quanto vale o seu passe? Quanto? Quanto?Je ne veux pas que ils vienent tirez mes ficelles!

NERO, BRUTUS E DON JUAN

Don Juan disse uma vez: todos nós temos um animal de poder, um companheiro, um guardião. Não tente me enganar, eu sei onde está ele, e só o deixarei ir quando você o achar. Ele tinha achado Nero & Brutus Ele tinha sido criado por eles, além de uma espécie de tutor, algo como um velho mordomo, um braço direito, ou algo assim. Tinha sido há muito tempo, pelo menos para ele parecia ser muito tempo. Aliás, o que era o tempo? Talvez algo que ele temesse...

SOBRE TÍTERE

<(do espanhol: títere) Substantivo masculino 1 - boneco articulado, de madeira, pano ou outro material, suspenso por fios fixados numa trave e presos na cabeça, mãos, joelhos e pés, pelos quais o operador o movimenta; Fantoche, Marionete. 2 – Palhaço 3 – Fantoche 4 - Que não tem posição própria.

DÚVIDAS

Era noite, e na piscina do velho hotel ele conversava com um amigo de muito tempo, sobre fatos recentes que o tinham animado muito ultimamente... Mas, algumas dúvidas persistiam em atormentá-lo... Não sabia direito o que fazer... Na verdade, tudo era novo pra ele... Estava em dúvida... Foi então que teve a idéia de não mais ligar para aquilo, seu amigo dera força neste sentido... E resolveu que assim seria... Um peso tinha lhe sido tirado das costas. Saíram dali e, num bar qualquer, entre uma cerveja e outra, tudo aconteceu. Caiu em si... e as dúvidas voltaram........

REENCONTRO

Há uma semana que ele pensava no reencontro. Ansioso, ficava imaginando como seria, pensando no que poderia acontecer, ia longe em seus devaneios. Era muito imaginativo, ele... Até ouviu o telefone tocar, mas não quis atender não, imaginou que pudesse ser alguém com quem não quisesse falar. Desarrumou as malas, se jogou em cima do sofá e só então olhou para o telefone e se arrependeu de não ter atendido... era Ela que ligara...Mais do que depressa retornou a ligação e respirou aliviado ao escutar a doce voz que tanto imaginara nos últimos dias...... Combinaram um encontro perto da casa dela, à noite... Vestiu sua melhor camisa, fez a barba e enquanto ia vendo passar o caminho foi pensando em alguma coisa pra falar depois de tantos anos. Ela estava linda, ainda suada, com o uniforme do trabalho, mas ele não se importou, olhou profundamente nos olhos dela, e sem precisar dizer nada, se sentiu feliz.

MADRUGADA

Dor, frio, fome e medo, uma rua deserta, em algum lugar, às duas da manhã... Alguns passos, e viu um grande prédio de concreto, serpenteando no meio do nada.Ouvia nada mais que o som da noite, caminhando sozinho e sem rumo, em meio ao horizonte, os carros e as árvores...E ia... Vagando... esperando chegar em algum lugar, lembrando-se de uma lenda sobre um lugar encantado no meio de um vale exuberante, estava feliz ali...no seio de sua terra mátria, sua pátria, sua aldeia, seu povo.

SOBRE TERESA

A angústia e a depressão tomavam conta dele naquele momento. Sentado ali, naquele banco da velha matriz, se perguntava por que não podia ser como os outros, se sentia muito só havia já algum tempo, antes mesmo de chegar até ali.Veio de um lugar distante qualquer, de algum lugar deserto, árido e seco. Era uma rocha, não sentia frio ou fome, ou, quando sentia, tentava enganar sua alma repetindo e repetindo para si mesmo que tinha que ser forte. E de tanto repetir acabou acreditando... Tinha se tornado um réptil, de sangue frio e pele dura, impenetrável couraça..... Será que os jacarés são felizes?Ele não era. Na noite anterior tinha sonhado com anjos e fadas, não conseguia entretanto lembrar-se do que lhe havia sido dito, mas lembrava-se bem do rosto de uma das fadas.... Um ser bom, com quem um dia aprendera muito, talvez mais do que precisasse saber.

SOBRE A DESTRUIÇÃO

Sem cessar ao meu lado o demônio se agita... e eu o trago aos meus pulmões onde ele arde e crepita.Quando estiver com a sua idade vou querer estar muito melhor.A dor abre caminhos em meu peito, esmaga e dilacera o meu coração,desfazendo sonhos, calando minha voz, turvando-me a visão.sinto vontade de gritar.... O desespero me assume a alma, ditando formas nunca por mim vistas. Perco por alguns instantes a consciência, alguns segundos apenas, mas o suficiente pra me fazer enxergar sentimentos e emoções distintas...várias, confusas, todas ao mesmo tempo....tudo é muito intenso dentro de mim, uma coisa meio auto-destrutiva, sem censura, sem medo, sem realidade. A DOR NÃO EXISTE, O FRIO NÃO EXISTE, A FOME NÃO EXISTE... TUDO É CONSCIÊNCIA... cada som, cada sinal, cada palavra, cada música.........

ESTRANHOS BALAIOS

Tudo aconteceu muito rápido, queria que durasse mais tempo, mas valeu. Ouvi alguém dizer certa feita que tudo dura o tempo o que tem que durar e que nada é eterno ou tão efêmero assim... Voltei com barril vazio, mas com o coração em festa, cheio de luz e paz. Flores, Claras, Paulas, Paulos, Música, carinho, e diversão. Impérios de um gato só, Lixo em três pour quatro, passarinhos cantando na janela às seis da manhã, enquanto o sol nascia fazendo do silêncio um sorriso ecoando pelo apartamento das janelas de vidro sem cortina... Ficou lindo o lugar, um lugar pra relembrar, um refúgio de paz... Foi bom estar lá... Bom saber que há amor esperando por nós... Gracias a la vida. Gracias, gracias, gracias....

O MURO

Abri a minha janela hoje quando acordei. Havia um muro lá fora. Violetas anunciavam o outono. A lua em gancho soprava um som estranho, o silêncio sorria para mim. Estava escuro. Nero & Brutus haviam ido embora. Das minhas costas saiam grandes asas, fortes, brancas... Embora não as tivesse notado antes, algo dentro de mim me dizia que elas estiveram sempre ali, pois eu as manejava com destreza, mas tinha medo de voar...... Tinha medo de ir e não saber o caminho da volta. Olhei pra baixo, então... Vi a neblina, era densa, tomava conta de tudo, o muro havia sumido, acho que estava céu, sei lá. Era uma sensação estranha, o medo tinha ido embora, dei um passo a frente e saí voando.

MOLHO PARA PENNE

100 g de gorgonzola 50 g de uvas passas sem semente 100 ml de creme de leite 70 g de bacon cortado em cubos 20 g de manteiga

SOBRE FISH

Ontem, encontrei velhas canções; velhas canções perdidas há muito tempo, esquecidas em algum lugar que nem lembrava mais existir, elas vieram do nada, sem nenhum motivo forte ou acontecimento especial, simplesmente surgiram. E, de repente, me vi relembrando cenas de 15, 20 anos atrás... Manhãs no Chelsea, Gardens Parties, descobertas, fugas, cenas hoje com um simbolismo ímpar, algo que não sei direito explicar, aliás, hoje pela manhã até me perguntaram qual o significado dos símbolos que eu mais uso... Meus símbolos são camaleônicos, como eu, cada hora elas dizem uma coisa, eles conversam comigo o tempo todo, "sometimes words have two meanings". É mesmo a coisa do ponto de vista: vemos as coisas não como elas são, mas como nós somos, pequenos fragmentos que vamos juntando aos poucos, como aquelas imensas telas, daquelas que você só absorve o todo se olhar de longe. Acho que é isso.

O URSO

Tudo começou por causa de uma imagem pintada num pano branco. A imagem de um grande urso pardo. Havia algo escrito embaixo, uma frase qualquer, mas o que chamava atenção mesmo era o desenho; podia ser visto de longe! Como se sua força varasse os mares e chegasse até o outro lado do mundo. Era forte, mas não tinha consciência de sua força, tão pouco sabia do que era capaz. Contentava-se com pouco, migalhas, restos às vezes. Era um sonhador, delirava o tempo todo, vivendo num mundo à parte, um mundo só dele, um mundo que ele sabia que não existia, mas pouco se importava com isso, preferia assim.

SOBRE DEEDLIT

Outro dia fui a uma banca de jornal procurar notícias do mundo, e vi uma revista em quadrinhos: LODOSS WAR, ou algo assim. A HISTÓRIA DE DEEDLIT. Aquilo me despertou algumas lembranças, me lembrou alguns fatos, e me fez recordar uma pessoa, uma pessoa que certa feita me contou uma história de um ser místico que tinha esse nome. Tenho até hoje um auto-retrato dela. DEEDLIT é amiga de Nero & Brutus e também me protege, aliás, ela tem um grifo dourado e negro que sempre a acompanha. Sempre que surge alguma coisa que possa me ameaçar ela monta seu grifo, com seu arco e sua flecha, e pra longe de mim leva o perigo. Encontrei DEEDLIT pela primeira vez em um delírio cibernético, quando ela era apenas uma criança, ainda não conhecia seus poderes e nem seu grifo de guarda que é um bebê apenas, está com ela faz poucos anos, muito menos anos que nossa amizade. Uma vez, no natal, comprei um presente pra DEEDLIT, um presente perpétuo, uma armadura de arqueira, uma armadura protetora que como um abraço forte, protege a alma dela contra todos os males que seus poderes mágicos não são capazes... DEEDLIT, conte comigo, estou ao seu dispor, e Nero & Brutus à sua proteção. NAMASTÊ

IMAGENS

Minha intenção ao iniciar esta coisa é a vontade de poder lembrar-se de tudo depois. Pra lembrar com riqueza de detalhes... E tudo começou numa noite de segunda-feira depois de assistir ao ensaio da Hora da Estrela, numa sala alugada por um grupo de teatro amador. Foi um momento de egotrip total. Muitas imagens apareceram e deflagraram idéias em mim que nem sempre pus em prática e ficaram lá, adormecidas, ou até mesmo abandonadas ao longo do caminho... Não tenho certeza se um dia vou por tudo em prática, não sei, acho que tenho medo, embora já tenha percebido que e o medo não me leva a lugar nenhum, mas o fato é que tenho medo. Minha loucura é aparente, meu medo, real. SAME SHIT, DIFFERENT DAY.

11 DE JUNHO A.C.

E loucos seguimos, embolando nossos sonhos de loucura numa onda constante, uma viagem louca numa onda azul que eu deixo fluir. A pressa me atropela, a ânsia de escrever, de vomitar, de me comer, de gozar, me trava querendo ser mais do que eu mesmo.Preso no passado, resgato emoções indescritíveis, que em vão (ou não) tento descrever, fazendo-as então mais presentes.Vejo rostos, sou cego. Ouço vozes, sou surdo. Levanto vôo, sou homem. Lentamente me levanto, sigo reto pelos sonhos, sem pressa, me convenço, olho pro futuro, vejo emoções nunca lembradas.Me vejo no espelho, ouço vozes, sou EU.

SONHO

Num prédio abandonado em um subúrbio qualquer ele se viu dormindo, depois de um dia inteiro vagando pelas ruas e pelos morros da velha cidade. Era como se ele estivesse ali de passagem, no fundo ele não acreditava em nada daquilo, mas sabia que não tinha como fugir. Algo como um sonho real. Sentou-se no chão sujo e começou a pensar em tudo que acontecera até aquele momento. Por que estava ali? Como tinha chegado? Simplesmente não se lembrava, suas lembranças tinham sido apagadas. Acendeu um cigarro, o último, e procurou dentro da velha mochila alguma recordação feliz, algo que pelo menos por alguns momentos o tirasse dali... Achou uma velha foto, de quem nunca conhecera, uma foto qualquer, dessas que a gente acha no lixo e guarda... Nela a velha senhora abraçava um cachorro numa paisagem que de alguma forma lhe era familiar... Ouviu vozes vindas de um lugar distante, e chegou até a janela do último andar de sua mansão... Uma fábrica abandonada às margens de uma rodovia qualquer de um bairro industrial... E lá de cima viu a cena da foto... esfregou os olhos para ajustar o foco dos olhos sujos e recém acordados, e lá estava o cachorro, no colo da velha senhora, os dois na porta de velha ermida protegidos por Nero & Brutus.... Sentiu-se feliz.

DELÍRIO #002

Ave Maria cheia de graça Ave Maria cheia de graça Dominus tecum Dominus tecum Acabou de cantar uma cigarra lá fora. Isso é chuva que vem por aí... um pouco de chuva é bom. Pra molhar a terra... Amolecer o coração... Adubar de sentimento o canteiro de pedra que tem se feito meu peito... a garrafa de Coca-Cola, o mamão em cima da geladeira, o mofo, as baratas....o creme de alface... As ervilhas podres, maçãs... Os corações... Nada faz sentido. Qual a diferença entre detenção e reclusão??????? A lei admite superveniência???? Não há crime sem lei anterior que o preveja... O passado encontra o presente... A lei do eterno retorno... Onde devo ir? Devo seguir o rio????? O admirável mundo novo é aqui... Paralelo 23, estamos todos doentes...... Doente de censura, todas elas... A cafeína, as baratas, os sonhos, o vômito, as dúvidas, Kafka, Macunaíma, as ovelhas, os anjos exterminadores, as perdas, as pedras, o sono, as drogas, as dragas, os dragões... Os sonhos, os delírios, os perpétuos... DESTINO, MORTE, SONHO, DESTRUIÇÃO, DESEJO, DESESPERO, DELÍRIO...... delírio, delírio, delírio, MEDO E DELÍRIO, sonhos e réquiens, a irreversibilidade do tempo, destruindo tudo, os ladrões de sonhos, de bicicletas, os heróis... bom dia, boa tarde, boa noite......NAMASTE

DELÍRIO #001

Hoje acordei bem, mas ao longo do dia me deu uma vontade muito grande de quebrar tudo a minha volta. Sonhei esta noite que virava um pássaro. Encontrei pessoas no meu sonho que não estão mais aqui. Senti vontade de gritar... Havia dor... Ela abriu meu peito, me fez perceber fraco... Culpado, triste... ... Quando morrer Nero & Brutus, meus jacarés de estimação imaginários, irão cuidar do meu túmulo... meus guardiões, meus companheiros, minhas máscaras...