SOBRE O SECULO XX

O que podemos esperar do homem além da destruição do mundo, de seus valores e do auto-extermínio?Vivemos hoje uma espécie de catarse coletiva e inconsciente, onde o homem moribundo sobre um leito hospitalar sobrevive devido a aparelhos. Aparelhos que nos remetem a uma lembrança longínqua de um século que, sem dúvida, ficará na história como uma espécie de divisor de águas. Durante os últimos cem anos assistimos o homem ir à lua, vimos um carro ser montado em poucos minutos, nações serem varridas do mapa com o simples apertar de um botão. Presenciamos destruição, fome, miséria, doenças, pestes e pragas, e tudo com o beneplácito de uma sociedade hipócrita e mesquinha que, por muitas vezes subjugando o valor humano, nos fez acreditar que de tempos em tempos as guerras geram empregos e aumentam a produção. Vimos um conjunto de valores serem separados por muros, cercas, campos de concentração, e a concentração em grandes metrópoles. O que vemos hoje é uma civilização vegetativa, uma civilização que acredita muito mais no poder das grandes empresas, num mundo corporativo, globalizado e abstrato. Num mundo que não existe além dos interesses econômicos, um mundo em que seres humanos são reduzidos a números e máquinas, num esquema onde foram deixados de lado valores elementares como a compaixão pelo próximo, o amor próprio e o respeito pela natureza. O que vivemos hoje é, sem duvida, o início de um ciclo que por mais que queiramos esconder, culminará no extermínio da sociedade como conhecemos. Com o implemento da produção em série, vimos surgir uma nova ditadura, uma ditadura de máquinas cada vez mais vorazes, sinal dos tempos, tempos modernos. Tempos esses que acirraram ainda mais uma luta de classes na qual não há vencidos nem vencedores; um admirável mundo novo no qual somos submetidos cada vez mais ao grande irmão que do alto de sua onipotência a tudo controla e, impiedosamente, ceifa àqueles que não se enquadram em seu esquema sujo, não poupando nem os que se rebelam em praças públicas, queimando os símbolos e as bandeiras da opressão, enfrentando os tanques de guerra, os fuzis e outras ameaças invisíveis que, mascaradas, nos chegam como a grande salvação para a raça humana. A mesma raça humana que inventa realidades paralelas. O século XX entrará para a história como o século da contra cultura, o século da contestação, o século da intolerância, o século da banalização. O século da informação rápida, do conhecimento fugaz, da profusão rápida de idéias e ideais efêmeros, um tempo no qual a vida humana não tem mais valor algum, um tempo no qual basta ligar nossos computadores para receber toda informação necessária para nos mantermos vivos, nos dando a ilusão de estarmos interagindo com o mundo que nos cerca, sem perceber que, na verdade, estamos cada vez mais deixando de pensar, para nos render a um padrão eletrônico de processamento de idéias pré-concebidas. A globalização, o avanço tecnológico e o crescimento da informática vêm cada dia mais prejudicando o homem de forma irreversível. Com o advento do E-mail e da comunicação instantânea, banalizamos a emoção e nos tornamos somente meros impulsos eletrônicos sedentos por emoções cada dia mais vulgares, buscando satisfazer nosso desejo de forma superficial através de salas de bate papo, sexo virtual, web cams e outros artifícios cada vez mais comuns, nos esquecendo de viver a realidade. E tudo isso nos parece tão normal que ao abrir a janela não conseguimos ver o colorido da vida fora do Windows.

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